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A História

Era a noite de 17 dezembro de 1989. Na TV americana, a recém-criada rede Fox estreava seu primeiro desenho animado em horário nobre. Parecia um desenho comum: uma família engraçadinha - mãe, pai e três filhos - se metia em encrencas nos preparativos para a noite de Natal. Até o nome da série soava como repetição de Os Flintstones ou de Os Jetsons... Mas o cheiro de passado sumiu logo nos primeiros minutos. Estava na cara amarela, nos olhos esbugalhados e nas mãos de quatro dedos que aquele desenho era diferente: quando Marge promete levar os pedidos de presente dos filhos ao Papai Noel, Bart diz que "só tem um gordo que nos traz presentes, e o nome dele não é Noel". Homer, o gordo em questão, rouba a árvore de Natal da família do meio de uma floresta. Para descolar uns trocos, o paizão imita o bom velhinho num shopping e deixa o filho emocionado: "Você deve mesmo nos amar para descer tão baixo!" O humor politicamente incorreto segue por meia hora, mas nem tudo é riso: há suspense, emoção e até um final feliz (é Natal, né, gente?) - mas sem lição de moral. Não era um desenho comum. Era a estréia de Os Simpsons, o desenho mais importante de todos os tempos.

Quinze anos e mais de 300 episódios depois, a série animada mais duradoura da história já faturou 18 prêmios Emmy, o mais concorrido da televisão americana, e foi aclamado como o melhor programa de TV no século 20, segundo a revista americana Time, em 1999. Transmitido em mais de 70 países, o desenho é só o produto mais visível de um arsenal multimídia de livros, DVDs, CDs e games que sustentam a simpsonmania no mundo (no quadro Mergulhe Nessa, a gente indica tudo que um fã dos Simpsons não pode deixar de ter). Só falta o tão esperado longa-metragem, um sonho antigo dos produtores e do público que ainda não tem data para começar a ser produzido.

Rabisco tosco

O mais incrível é que esse império animado nasceu com um pedaço de papel rabiscado em apenas 15 minutos. Em 1985, o produtor de TV James L. Brooks pediu ao cartunista Matt Groening que criasse uma família maluca e engraçada para a TV. Na sala de espera, enquanto aguardava pela conversa, Groening rascunhou Homer, Marge, Bart, Lisa e Maggie e mostrou o desenho a Brooks. Ele curtiu: dois anos depois, em 1987, os Simpsons estreavam em vinhetas de três minutos num programa humorístico da Fox, o Tracey Ullman Show. No começo, o traço era tosco e tinha acabamento precário. Mas quando Homer e companhia ganharam sua própria série, em 1989, os personagens já tinham visual mais refinado e personalidades mais definidas. A série foi se sofisticando: hoje, para animar um único episódio de Os Simpsons, é preciso produzir 24 mil desenhos e gastar até oito meses de trabalho, a um custo de 1 milhão de dólares.

Muito tudo

É muita grana, mas essa não é a razão principal dos 15 anos de sucesso. A simpsonmania nasceu, cresceu e se multiplicou graças a outros ingredientes poderosos:

Tramas criativas, muito criativas

Os enredos mais inspirados encadeiam várias histórias e conseguem fazer a gente rir, chorar e chorar de rir num único episódio.

Personagens legais, muito legais

Homer, Marge, Bart, Maggie e Lisa são complexos, carismáticos, divertidos - quase humanos. Sem contar a profusão de coadjuvantes e participações especiais que sempre arrancam uma risada ou uma reflexão a mais.

Ousadia, muita ousadia

O humor corrosivo da série não perdoa ninguém. Sobra para as celebridades, os políticos, a própria rede Fox, o capitalismo e até para Deus!

Nas próximas páginas, recordamos os grandes momentos do desenho e esmiuçamos os segredos da família mais amada do planeta. Uma família amorosa como muitas, problemática como várias, engraçada como poucas e revolucionária como nenhuma outra.

Primórdios

Rabiscados pelo próprio cartunista Matt Groening, os Simpsons tinham um traço mais rústico nas seqüências de desenhos curtos que foram ao ar entre 1987 e 1989